O 100.º aniversário de Manuel João da Silva, do “Guardador de Palavras”, é assinalado com um espetáculo evocativo e uma exposição biográfica. Profundo conhecedor da cultura local, em especial do concelho de Santiago do Cacém, destacou-se pelas várias investigações sobre os falares regionais. A iniciativa é organizada pela Associação Cultural de Santiago do Cacém, em parceria com a Câmara Municipal de Santiago do Cacém e União de Freguesias de Santiago do Cacém, Santa Cruz e São Bartolomeu da Serra.
Com esta iniciativa pretende-se dar a conhecer aos mais jovens o legado do Professor Manuel João e, assim, manter viva a sua memória. A recolha etnográfica, dos saberes e falares tradicionais foi consequência das suas funções como professor na alfabetização de adultos.
O espetáculo que reúne várias expressões artísticas, vai recordar o professor Manuel João da Silva em diferentes momentos e espaços do centro histórico, e o elo de ligação será uma motorizada, lembrando as suas deslocações para ir dar aulas.
A encenação do espetáculo está a cargo de Luís Cruz, que une a música, o documentário, a multimédia e o graffiti, conduzindo o espetador numa viagem pelas obras editadas do Professor, Manuel João da Silva.
O programa do espetáculo, que acontece dia 23 de setembro pelas 21h00 no Largo Conde do Bracial (Largo do Pelourinho), conta com a participação de “O Gajo”, Grupo Coral da Casa do Povo do Cercal do Alentejo, Coral Harmonia, Grupo Coral Vozes Além’Tejo, Adélia Botelho, Manuel Ruíz, Beatriz Guerreiro, Mafalda Silva, No Art Limit e Escola Superior de Educação de Lisboa.
Em paralelo, está patente na sala de exposições temporárias da Fundação Caixa Agrícola Costa Azul, a exposição biográfica sobre a vida e obra de Manuel João da Silva, que pode ser visitada, terças e quartas, entre as 14h00 e as 18h00, até 28 de outubro.
Professor e escritor Manuel João da Silva começou por trabalhar na agricultura ainda criança, atividade que manteve até aos 25 anos. Foi mais tarde professor do 1º ciclo do ensino básico e um autodidata que procurava sempre saber um pouco mais para melhor ensinar.
Exerceu o professorado como regente escolar – antigo estatuto do professor que não possuía o curso do Magistério Primário, que viria a concluir em 1971 – para além de ter sido empregado de escritório na área comercial, entre outras atividades como a de colaborador no jornal regional “A Gazeta do Sul”, editado no Montijo.
Mostrou ser um grande conhecedor da cultura local e realizou inúmeras pesquisas históricas e etnográficas, com a preocupação de preservar a cultura e a tradição populares, de que resultaram muitos trabalhos que a Câmara Municipal de Santiago do Cacém tem vindo a divulgar: “A Riqueza dos Falares Regionais I”; “O Mastro da Fonte Loba”; “Pobrezinhos e Malteses de Porro e Manta”; “Como era a Vida em Casa do Lavrador Boieiros e Ganhões”; “Toponímia das ruas de Santiago de Cacém”; “Breve História e Ermidas no Tempo e no Espaço” e “Feiras tradicionais do Município de Santiago do Cacém”.
A vida dos trabalhadores rurais, a história local e todo o património oral da região têm um papel central nas suas obras. Listou mais de mil expressões regionais que não se encontravam em nenhum dicionário.