A 14.ª edição do Festival Terras sem Sombra, termina no dia 30 de junho, em Santiago do Cacém. Um projeto da Associação Pedra Angular que conta com o apoio da Câmara Municipal de Santiago do Cacém.
Em cada edição, há um país convidado e 2018 é o ano da Hungria, sob a ideia de “aproximar o distante”. Um pretexto para revisitar o papel da tradição e da modernidade na música europeia, do século XVI ao século XXI. A adesão do público mostra o interesse da programação desenhada por Juan Ángel Vela del Campo, responsável artístico do festival desde 2015.
A Igreja Matriz de Santiago acolhe a 30 de junho, às 21h30, o concerto de encerramento do festival, intitulado “Fragmentos Vitais: Kurtág e a sua Circunstância”. Uma peça da criação dos nossos dias, mas muito pouco escutada em Portugal, “Fragmentos de Kafka”, de György Kurtág, constitui o cerne de uma panorâmica da música contemporânea húngara que apresenta também obras de Béla Bartók, Péter Eötvös, Miklós Csemiczky, Gyula Fekete e Bella Máté, alguns dos compositores mais conhecidos desse país.
Para um programa tão abrangente, desloca-se de Budapeste um grupo de músicos de elite: a soprano Andrea Brassói-Jőrös, o violinista Máté Soós, o pianista Péter Kiss e o clarinetista Péter Szücs. Se a cantora triunfa já nos principais teatros de ópera da Europa central, os outros solistas são referências internacionais na interpretação da música dos séculos XX e XXI, com carreiras impressionantes.
Outra presença a assinalar é a do compositor e maestro Gyula Fekete, autor de uma das mais recentes peças do repertório que se vai ouvir, “Csárdás”, inspirada numa famosa dança tradicional da Hungria, e vice-reitor da Academia Liszt.
Porque divulgar o Património e contribuir para a preservação da biodiversidade são preocupações do Festival a partir das 15h00, do dia 30 de junho haverá uma visita (aberta ao público) à Quinta de São João, situiada nos Escatelares em Santiago do Cacém, uma das mais belas quintas de recreio do litoral alentejano. Situada numa zona famosa pela abundância de água, o que levou a ser escolhida, no século XVIII, como assento de quintas pertencentes à aristocracia local. Na época romântica, voltaram a estar em voga e receberam beneficiações ao gosto do tempo.
Entre tais quintas, sobressai, pela imponência do conjunto edificado e pela riqueza natural, a de São João, que pertenceu ao sargento-mor João Falcão de Mendonça e data da década de 1720.
A visita é guiada por Gonçalo Nunes da Silva, um dos proprietários, e pelo arquitecto Francisco Lobo de Vasconcellos.
Na manhã de 1 de Julho, às 9h30, o Terras sem Sombra acompanha o escritor e psicanalista argentino Arnoldo Liberman numa visita à antiga Judiaria, em pleno centro histórico de Santiago do Cacém. O ato constitui uma chamada de atenção para a memória do bairro judeu, desaparecido no século XVII, quando a sua comunidade, perseguida pela Inquisição de Évora, se dispersou.
Descendente de famílias hebraicas da Europa central, Liberman nasceu em 1933 e formou-se em Buenos Aires. É uma das grandes figuras da literatura hispânica do século XX. O Centro UNESCO de Arquitectura e Arte, com sede em Santiago, propôs esta visita ao promotor da causa pela paz no Médio Oriente e membro da Fundação Hispano-Judaica.
Em seguida a Herdade do Loreto, é o próximo ponto de paragem com os olhos postos no seu montado de sobro. Esta mata, comprada em 1515 pelos frades do convento franciscano de Nossa Senhora do Loreto, foi por eles beneficiada, ao longo de séculos, como fonte de sustento e espaço de meditação e oração. O convento, extinto em 1834, acabou por ficar ao abandono, mas o vetusto sobreiral teve melhor sorte e permanece um tesouro de biodiversidade.
Esta atividade explora a riqueza da flora e da fauna do montado e dá um contributo prático para a sua conservação, ao mesmo tempo que alerta para os problemas que a paisagem cultural do Loreto atualmente enfrenta. A ação é guiada por José Mira Potes (engenheiro zootécnico), Dinis Cortes (médico) e Luís Salvador (biólogo), com a colaboração de Ana Vidal (arquitecta paisagista).
As iniciativas do Terras sem Sombra, de acesso livre, são organizadas pela Pedra Angular, em parceria com a Câmara Municipal de Santiago do Cacém.
José Falcão da Pedra Angular fala sobre o programa musical para o encerramento do Festival
Pedra Angular/CMSC