“O montado e a cortiça” foi o tema escolhido pelo Museu Municipal de Santiago do Cacém para assinalar o Dia Internacional dos Museus, no dia 20 de maio, com a abertura ao público de uma exposição sobre a temática. A arte da cocaria, com a recriação de um jantar típico dos ranchos de trabalhadores da tira da cortiça, e a rubrica “Conversas com…” em torno do tema, moderada por José Matias, completaram uma tarde de grande interesse.
As intervenções dos convidados, todos ligados à área da extração, transformação e comercialização deste produto tão rico, foram enriquecedoras e traçaram as preocupações emergentes, no dia de hoje, para a sobrevivência dos montados. Uma apresentação que nos transportou desde tempos remotos, através da apresentação de imagens do século XIX até aos dias de hoje, representativas das várias fases que envolvem todo o processo da cortiça, desde a extração, pesagem, transporte e transformação.
O sobreiro, uma das grandes riquezas do nosso país, tem a sua maior concentração no Alentejo. Pelas suas características naturais, é um produto leve, elástico e compressível, impermeável, com grande capacidade de isolamento térmico e acústico, entre outras propriedades. Na indústria, tem uma infinidade de aplicações, desde o fabrico de rolhas, construção civil, indústria de calçado, aeroespacial, indústria naval, em acessórios e decoração e muitas outras aplicações.
O concelho de Santiago do Cacém, rico em subericultura, conheceu um enorme florescimento da indústria corticeira desde as primeiras décadas do século XX. Com a proximidade ao porto de Sines, onde podia ser escoada de barco, a cortiça era exportada para Inglaterra. Mais tarde, com a construção da linha férrea em Ermidas-Sado, o transporte da cortiça para as indústrias transformadoras passou a ser feito de comboio, com destino, na grande maioria, a concelhos da península de Setúbal.
Até aos anos 60 do século XX, existiam no concelho de Santiago do Cacém 55 fábricas, que muito contribuíram para a economia local. As freguesias mais representativas deste ramo eram Ermidas-Sado, com 27 unidades fabris, e Santiago do Cacém, com 18. Hoje em dia são menos de meia dúzia, as existentes.
As técnicas de extração da cortiça no montado foram assunto de conversa, preocupando os presentes sobre a falta da continuidade da aprendizagem, dos novos tiradores, com aqueles que apuraram a sua técnica através de anos de experiência acumulada, sendo críticos em relação à legislação que regulamenta os tiradores de cortiça.